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Assim, não deixemos a mão rota do inverno desfigurar
De ti o teu verão antes que sejas destilada;
Adoça teus sumos; orna um lugar
Que tenha o valor da beleza antes de sucumbires.
Este uso não é a proibida usura
Que alegra os que pagam os devidos juros –
Para que cries, para ti mesma, um novo ser,
Ou sejas dez vezes mais feliz do que és.
Serias dez vezes mais alegre,
Se em dez de ti dez vezes te transmudasses;
Então, o que poderia fazer a Morte se partisses,
Passando a viver na posteridade?
Não sejas turrona, pois és por demais bela
Para que a Morte vença e os vermes te consumam.

 

Then let not winter’s ragged hand deface
In thee thy summer, ere thou be distill’d:
Make sweet some vial; treasure thou some place
With beauty’s treasure, ere it be self-kill’d.
That use is not forbidden usury,
Which happies those that pay the willing loan;
That’s for thyself to breed another thee,
Or ten times happier, be it ten for one;
Ten times thyself were happier than thou art,
If ten of thine ten times refigured thee:
Then what could death do, if thou shouldst depart,
Leaving thee living in posterity?
Be not self-will’d, for thou art much too fair,
To be death’s conquest and make worms thine heir.

Notes

ragged (1): rugged or rough.

treasure (3): enrich.

use (5): interest.

happies (6): makes happy – an unusual verb and the only time Shakespeare makes use of it.