Aqui testemunhamos o clímax do “Rei Lear” (“King Lear”), em que o velho soberano louco morre – literalmente – de dor ao levantar a filha Cordelia morta nos braços. Seu rosto fui buscá-lo no do poeta americano Ezra Pound quando foi flagrado num momento de desespero total. Uma das cenas mais engraçadas de Shakespeare: Launce se desespera ante a indiferença de seu cão Crab frente à dramática cena de despedida que vivera com os pais, em “Os Dois Cavalheiros de Verona” ( “The Two Gentlemen of Verona”). Este é Iago, que imagino juntando vingança, insídia, inveja e feminilidade num só lance, contra Otelo, o Mouro de Veneza (“Othello, the Moor of Venice”). Esta é angelical Marina com a virgindade leiloada, em “Péricles” (“Péricles, Prince of Tyre”). Na placa de madeira pendurada a seu lado está escrito: “Quem der mais, tê-la-á primeiro”. Este close é do “Rei João” (“King John”) e de sua insegura dubiedade. Em “Ricardo II” ( “Richard II”) interessou-me ver o rosto da rainha no instante em que, escondida, ouve uma conversa casual em que tem notícia da queda da monarquia – do mundo – a que pertence Esta é para a imensamente disforme, malévola e maquiavélica figura de Ricardo III (“Richard III”): Aqui tentei flagrar o momento em que é deflagrado o amor à primeira vista: aquele em que Julieta vê Romeu (“Romeo and Juliet”). Titânia – rainha das fadas – e Puck, de “Sonho de uma Noite de Verão” (“Midsummer-Night´s Dream”). Tito Andrônico ( “Titus Andronicus” ), o mais violento personagem de Shakespeare. Aquiles e Pátroco, nesta tela, demonstram o carinho de um pelo outro, em “Tróilo e Créssida” ( “Troilus and Cressida”). Katharina de “A Megera Domada” (“Taming of the Shrew”). A furiosa moça de repente abre para Petrucchio a pele de fera que lhe cobre o proibido corpo Ariel, espírito do ar, aqui – a serviço do mago Próspero – provoca uma tempestade, em “The Tempest”. Esta é para Cleópatra no momento em que, para não ser humilhada pelo exército romano, veste-se com toda a magnificência de sua condição de rainha do Egito e se faz picar por uma víbora, em “Antonio e Cleópatra” ( “Antony and Cleópatra”). Touchstone é um personagem tão inteligente quanto gracioso de “Como Gostais” ( “As You Like It”). Como me lembrou muito nosso gozadíssimo e brilhante Ariano Suassuna, foi dele o rosto e a pose que usei como modelos. Aí está o general Coriolanus revoltado com Roma, que tudo lhe deve e tudo lhe nega. (“The Tragedy of Coriolanus”). Aproveitei-a como capa de meu romance Relato de Prócula, como se se tratasse de meu personagem padre fazendo o papel de Pilatos. Hamlet, com o crânio de Yorick nas mãos, desenterrado da cova, lembra-se do bufão que tanto ria quanto o fazia rir na infância. Esta é a grande e vigorosa figura popular de Falstaff, do “Henrique V” (“Henry V”). Esta é a inesperada visão que Shakespeare – e todos os ingleses – tinham daquela que era considerara heroína e santa pelos franceses: a Joana D´Arc de “Henrique VI” – “Henry VI” – Part II Júlio César (“Julius Caesar”) tem nas mãos – quase – o poder supremo. Mas em seu peito reproduzi, como se fosse um baixo-relevo, a aquarela “Spleen et idéal”, de Carlos Schwabe, criada em cima do “Flores do Mal”, de Beaudelaire. Aí está a intrépida e fria Lady Macbeth (na tragédia “Macbeth”) com os dois punhais banhados em sangue, deixados pelo marido – num momento de covardia, dele – no local do regicídio que ela o levara a cometer. Numa das mãos dela acrescentei uma jóia que sintetiza sua frase cruel: “Tome a aparência da flor, mas seja a serpente debaixo dela!” Orsino ouve música e se lembra, lacrimoso, de Olívia. “Noite de Reis” ( “Twelfth Night”). Para o rosto dele e sua lágrima me servi de Michael Caine em “Alfie, Como Conquistar as Mulheres”). Eis aí Portia, de “O Mercador de Veneza” (“The Merchant of Venice”) ante os objetos que renderam a Freud seu famoso estudo “O Tema dos Três Escrínios”). Autor das Imagens: Waldemar José SolhaObras em exposição permanente no auditório da Reitoria da Universidade Federal da Paraíba