Como podes, ó cruel, dizer que eu não te ame,
Quando, contra minha vontade, a ti me entrego?
Não penso em ti, quando esqueço
De mim, por tua causa, brutal tirana?
A quem odeias, que chamo de amiga?
A quem rejeitas, que adulo e acaricio?
Não, se me desprezas, não me vingo
De mim mesmo com pesar profundo?
Que mérito me diz respeito,
Que, por orgulho, despreze teu serviço,
Quando o melhor de mim venera teus defeitos,
Sob o jugo e mando de teus olhos?
Mas, amor, me odeia, pois agora sei o que queres;
Amar a todos que te veem, e que eu te seja cego.

 

Canst thou, O cruel! say I love thee not,
When I against myself with thee partake?
Do I not think on thee, when I forgot
Am of myself, all tyrant, for thy sake?
Who hateth thee that I do call my friend?
On whom frown’st thou that I do fawn upon?
Nay, if thou lour’st on me, do I not spend
Revenge upon myself with present moan?
What merit do I in myself respect,
That is so proud thy service to despise,
When all my best doth worship thy defect,
Commanded by the motion of thine eyes?
But, love, hate on, for now I know thy mind;
Those that can see thou lovest, and I am blind.